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Escrever (ou ler) romance é fácil?
Newsletter 04. O estigma do romance vs. o real desenvolvimento de um romance
Pra quem é? Escritores, espectadores (que curtem refletir sobre o processo de criação) e curiosos de plantão.
Escrever romance é fácil? Ler romance é fácil? Eu sei, a primeira vista essa pergunta parece tão simples que você deve estar pensando… Tem uma pegadinha aí, tem uma resposta que eu não posso dar, e bom… Você não está errado, tem mesmo!
Antes da gente partir pra resposta da nossa dúvida primordial de hoje (e eu sei, já tá quase virando um costume fazer introduções assim rs), vamos pensar no que significa a palavra fácil?
Diria que de modo geral, nossa sociedade tem uma visão de que aquilo que é conquistado através do sacrifício é mais merecido, portanto, o que é mais difícil de se conquistar consequentemente será melhor do que aquilo que é fácil. Como diria o ditado “nada na vida vem fácil”, e ainda que a gente possa debater sobre a máxima dessa ideia, ela se estendeu para outros setores. Entre eles, a escrita, a leitura, o entretenimento. E com isso uma expansão do conceito aconteceu: fácil virou sinônimo de “vazio”, vazio virou sinônimo de ruim, ruim virou sinônimo de inválido.
(E é por coisas assim que eu insisto tanto que o discurso importa).
Nada na vida vem fácil… Será mesmo?
Agora vamos pensar juntos…
No fim das contas, se estamos falando de entretenimento, existe mesmo entretenimento vazio? E se existe, isso é um problema? Não vou me alongar nesse assunto (mas se vocês quiserem ouvir mais dele, me contem que levo pro insta!), mas… É preciso entender que a leitura fácil não é sinônimo de leitura ruim (até porque ruim e bom é super subjetivo), ela pode simplesmente representar um estilo menos carregado emocionalmente, ou uma escrita menos robusta, e se é isso que você busca, excelente!
Além disso, é importante adequar o estilo literário ao que seu livro se propõe a ser, e honestamente, se o romance romântico tem entre suas características traços do cotidiano, ou doses de clichê, isso combina com um texto recheado de construções literárias complexas?
A resposta é simples: não.
Então fácil não é uma palavra ruim. Dito isso, acho que respondemos a primeira pergunta de hoje, ler romance é fácil? Depende! Na maioria das vezes sim, porque é isso que o gênero romance romântico em geral se propõe a transmitir: leveza! Mas como sempre reforço por aqui: um livro não precisa se encaixar numa determinada caixinha, então existem exceções.
Quem já chorou com uma cena de romance, ou simplesmente sentiu o coração apertar com a dor dos personagens, sabe que essa leitura nem sempre é fácil. E que cada experiência é única.
Agora vamos para o segundo tópico do dia: escrever romance é fácil? Muitas gente diria que sim, e por isso muitas pessoas são incentivadas a começar a escrever através desse gênero e migrar para outros quando a escrita estiver mais refinada (insira aqui seu revirar de olhos), minha resposta: não.
Pra mim, nenhum gênero é fácil de se escrever. Se você é um escritor que ama fantasia, ou ficção científica, talvez ache impossível desenvolver as emoções de um personagem, encontrar o equilíbrio entre humor e realidade, para criar o romance perfeito.
E o mesmo vale para alguém que se encontra escrevendo romances, pode ser um desafio criar universos, regras mágicas e afins!
Este é mais um dos tantos estigmas e estereótipos que envolvem o universo romântico: mas o romance real é difícil pra caramba de se desenvolver, e separei três motivos que sustentam esse fato:
Primeiro: Um bom romance desperta diversos sentimentos e construir esses contrastes, encontrando um equilíbrio que não seja melancólico demais, ou dramático em excesso, é díficil. Especialmente porque o desenvolvimento precisa ser envolvente, já que é assim que se conquista os leitores!
Segundo: Os romances românticos brincam com sentimentos humanos e transmitir humanidade na ficção é complicado pra caramba.
Terceiro: Os leitores de romance são muito exigentes! Eles querem se apaixonar por aquela história, pelos personagens, por suas vidas e sua trajetória. E se aqui, no mundo real é difícil despertar esse sentimento, quando temos todos os sentidos a nossa disposição, pense em um livro, quando estamos tentando inspirar os leitores sem de fato conseguir tocá-los, apenas através das palavras e do virar da página.
Ou seja, resumindo essa conversa toda, por um lado não precisamos nos ofender quando algo é descrito como fácil. Mas… Como fazemos parte de um mercado que carrega consigo características comerciais é importante desfazer certos preconceitos e estigmas.
Um primeiro passo é abrir a conversa (oi, é pra isso que eu tô aqui), e o segundo: se orgulhar de ser um escritor de romance. Você, já se orgulha? <3
Por hoje é só pessoal, vejo vocês na próxima!